segunda-feira, 10 de março de 2014

A Angústia e a Vida Profissional





No mundo corporativo, dos dias atuais, analisamos:  "manda quem pode, obedece quem precisa, muda quem tem juízo."

Essa última parte é por minha conta, mas eu já pensei diferente no passado. Reconheço que é bem mais fácil pensar assim depois de certa idade, quando você sabe exatamente o que quer e, principalmente, quando você trabalha de cabeça erguida, graças ao seu esforço, à sua dedicação e, sem dúvida, um pouco de sorte. Dessa forma, pensar diferente é um exercício gratificante para não se deixar escravizar, apesar da necessidade que, na maioria dos casos, sempre fala mais alto.

Entender o ditado requer interpretação em três etapas:

MANDA QUEM PODE. Manda quem  pode é algo típico da Idade Média, quando os senhores feudais dominavam vastas propriedades de terras e os servos e os vassalos viviam à mercê do seu temperamento nada amistoso; portanto, qualquer descontentamento era sinônimo de ameaça e, para evitar conflitos, cuja pena máxima era a perda de proteção ou a expulsão do feudo, a alternativa mais sensata era obedecer. Assim foi no tempo da escravidão, quando os reis, imperadores e senhores de engenho detinham a propriedade do indivíduo, de papel passado, em regime absoluto de escravidão. Durante essa fase repugnante da nossa história, isso era comum.

OBEDECE QUEM PRECISA. Obedece quem precisa surgiu mais adiante quando Frederick Taylor, o precursor da administração científica do trabalho, instituiu o conceito de chefia e organização e estabeleceu, de forma veemente e unilateral, que alguns nascem para mandar, outros para fazer. Naturalmente, quem nascia para a execução morreria sob esse estigma e poderia se tornar um obediente operário até o fim da vida. Por essa razão, Taylor era meio paranoico, obcecado por controle e produtividade.

MUDA QUEM TEM JUÍZO. Muda quem tem juízo é a minha praia, por assim dizer. Considero a melhor atitude para se livrar do ditado original. Embora eu tenha sido forçado à mudança há algum tempo e isso tenha me proporcionado um bem danado, eu posso dizer que se trata de um dilema difícil de ser solucionado e isso não é privilégio de poucos, ao contrário, é o caso da maioria dos profissionais do mundo moderno.

A mudança é o caminho mais adequado para livrá-lo dessas tolices que mancham o mundo corporativo e para colocar todo o seu potencial em prática em um lugar onde você possa ser tratado, literalmente, como ser humano. Você é a única pessoa capaz de reverter o quadro depreciativo que pintam a seu respeito e a cerca do seu trabalho, por mais esforçado que você tente parecer.

O ambiente de trabalho se tornou fonte de infelicidade para presidentes e diretores de grandes empresas e, por experiência própria, estendo esse descontentamento geral para outros níveis hierárquicos que sofrem diferentes tipos de pressão por resultados cada dia mais insaciáveis.

Ainda, a angústia da vida executiva é algo digno de reflexão. Dentre os principais resultados obtidos são:  os executivos se dizem infelizes no trabalho, se dizem insatisfeitos com o tempo dedicado à vida pessoal e apontam os problemas com o chefe como a crise mais marcante da sua vida, o que não é tanta novidade assim.

Por um lado, o excesso de trabalho; por outro, a falta dele. Ambos tem a ver com a dignidade humana, relegada com frequência ao segundo plano. Albert Camus, filósofo francês, lembra que não existe dignidade no trabalho quando este não é aceito livremente. Pior ainda quando não é aceito de forma alguma.

Os seres humanos tem um profundo anseio por significado e propósito em sua vida e retribuirão a quem os ajudar a atender a esta necessidade. Eles querem acreditar que o que estão fazendo é importante, que serve a um desígnio e que agrega valor ao mundo. Isso vale para o mais simples dos mortais.

Meu pai ficou praticamente 40 anos na mesma empresa repetindo esse ditado e por vários lugares onde passei havia sempre um insatisfeito que parecia ter assumido o lugar dele, mas não o condeno. Ele foi feliz do seu jeito e, apesar dos revezes, sobreviveu e conseguiu criar os filhos com dignidade.

Embora as circunstâncias mudem e as oportunidades sejam frequentes, muitos profissionais ainda se submetem a essa filosofia de vida, por medo ou insegurança, enquanto o verdadeiro potencial vai lhe escapando pelo vão dos dedos sem que o mesmo seja capaz de esboçar a mínima reação. Isso soa um pouco deprimente.

O fato de não ter conseguido livrar-me definitivamente desse ditado me fez reconstruí-lo a fim de torna-lo mais digerível e para repensar a maneira de ver o mundo. Leva tempo para conseguirmos destruir alguns paradigmas plantados em nossa cabeça involuntariamente. Hoje, cada vez que alguém dispara essa máxima perto de mim, eu complemento:  “e muda quem tem juízo”.

Graças a Deus, conheço um número razoável de profissionais que deram a volta por cima e, a despeito de todas as dificuldades encontradas no caminho, tiveram a coragem de reposicionar-se no mercado para conquistar um lugar ao sol, optando, em muitos casos, por uma renda menor ao reconsiderar o fato de que o dinheiro jamais conseguirá compensar a ausência de paz de espírito.

O mundo é repleto de oportunidades e, por menos conhecimento que alguém possa apresentar sobre determinado assunto, existe uma força sobrenatural dentro de cada ser humano capaz de transforma-lo em exímio conhecedor daquilo que ele estiver realmente determinado a realizar. É praticamente impossível o universo não trabalhar a seu favor se você estiver convicto de que as adversidades são condições temporárias e que a força de vontade e a determinação são as únicas virtudes capazes de recoloca-lo em um ambiente mais merecedor da sua energia, da sua inteligência e da sua valiosa companhia.

Olhe ao redor e admire a legião de profissionais que abriram mão de um cargo altamente promissor em grandes corporações e seus respectivos benefícios em troca de mais dignidade, mais qualidade de vida e mais tempo para a família. E mais, quantos amigos e colegas de trabalho pararam de brigar consigo mesmo, com o chefe e com a conta bancária partindo para uma missão diferente muito antes de você esboçar a primeira reclamação.

Existem inúmeras empresas onde o ditado prevalece, por pouco tempo, creio eu. Hoje, manda quem pode, obedece quem precisa e muda quem tem juízo, pois é necessário evitar ambientes onde o regime feudal deixou resquícios.

Assim sendo, quero compartilhar algumas dicas que poderão ajuda-lo no seu ritual diário de crescimento e desenvolvimento pessoal. Espero que sejam úteis:

1.       Ninguém tem o direito de ferir a sua dignidade. Quando sentir que o ambiente está afetando a sua autoestima e a sua dignidade, ou você muda de ambiente ou enfrenta o problema ou para de reclamar para sofrer menos do que o necessário; a primeira é mais gratificante.

2.        Considere que poucos líderes estão preparados para enfrentar o diálogo aberto e consistente quando alguém questiona o clima organizacional. Quando isso ocorre, geralmente eles são pegos de surpresa. Você conhece algum chefe propenso a admitir sua maneira equivocada de conduzir a equipe?

3.       Mudar é mais difícil do que se imagina. É muito mais prático suportar a pressão e chorar sozinho do que perder o emprego, o crachá e o plano de saúde, portanto, releve certas coisas e seja menos rígido na avaliação; digo isso porque já fui mais rígido do que o necessário e isso não me ajudou em nada, ao contrário, paguei um preço alto.

4.       Lembre-se de que nem tudo é para sempre e, felizmente, a vida é feita de mais momentos alegres do que tristes.

A angústia da vida profissional é eterna. Por mais recompensadora que possa parecer, a aposentadoria será o início de novos dilemas que surgirão com a idade e com a interminável necessidade de se sentir útil perante a sociedade. Se você não existisse, o universo não seria o mesmo. Portanto, para de sofrer com coisas pequenas e comece a provar a si mesmo que você é superior a tudo isso.

Nada resiste ao trabalho e ao desejo irreversível de subir na vida. Se você mantiver uma postura irreparável no caminho e assumir o compromisso de crescer e de aprender todos os dias até o fim da vida, ainda que você tenha de cair e levantar inúmeras vezes, seus pais, seus verdadeiros amigos e, principalmente, sua família, agradecem, de coração.
 
Pense nisso, e seja feliz...