Anos se passarão, e o Brasil ainda buscará explicações
para definir o que causou a “pane” da Seleção de Luiz Felipe Scolari,
levando-nos à derrota por 7 a 1 para a Alemanha, na Copa do Mundo de 2014, disputada no Brasil. Tirando os comentaristas de
resultados que jogam no time do “eu já sabia”, nenhum brasileiro, sequer,
sonhava com tão vexatória derrota.
Inegavelmente o resultado foi catastrófico, contudo é
preciso buscar obter o máximo de aprendizado de todas as coisas, inclusive das
ruins, como foi o caso. Longe de mim querer pregar de “Poliana”, mas se esses
momentos não servirem para reflexões do dia-a-dia ficarão marcados somente pela
dor.
Então, se a dor já existe, porque não fazer dela um momento
de aprendizado?
Permita-me então, entre alguns devaneios, propor algumas
reflexões e comparações com a rotina das empresas e dos empresários
brasileiros, na visão de um Administrador.
O conceito de que não é a gota d´água que transborda o copo
pode ser muito bem aplicado neste momento. A tragédia de ontem aconteceu porque
vários fatores contribuíram para chegarmos ao derradeiro momento com uma queda
tão abrupta e dolorida. A principal atividade do gestor é mitigar riscos. É
estar atento e efetuar comparações entre o mercado, o concorrente, os clientes
e a própria empresa. É tentar entender aquilo que não é dito, ajustar a
percepção e estar preparado para o risco conhecido e ter a certeza de que o
time está dinâmico e preparado para enfrentar também o risco desconhecido.
Desde a perda de um cliente até a crise econômica de um
país, nada acontece de um dia para o outro. Com o passar do tempo as coisas vão
dando sinais de que estão saindo aos poucos dos trilhos e do nosso controle. Se
nos aprofundarmos no estudo das causas que levaram muitas empresas a
sucumbirem, veremos que, por diversas vezes, fomos alertados de coisas que
estavam seguindo em um ritmo equivocado e não nos atentamos, ou não tivemos
capacidade técnica suficiente para entendermos estes sinais.
A falta de planejamento antecipado nos coloca no fim da fila
do sucesso. Queres atingir metas arrojadas? Então faça um planejamento
consistente para 5 ou 10 anos, delineando o caminho que precisa ser trilhado
até lá, com metas e objetivos graduais bem definidos. O brasileiro típico
compra os presentes de Natal com o 13º salário no dia 23 de Dezembro. O risco de
não encontrarmos o presente neste dia é grande, bem como os preços também
aumentam nas compras de última hora. Isso é falta de planejamento, é o mesmo
que comprar o condicionador de ar no ponto mais alto do verão ou o guarda-chuva
em dia de chuva. No caso de uma empresa, o gestor não pode sequer sonhar em
definir os objetivos do dia para a noite, ou de um mês para o outro.
No caso da Seleção Brasileira, o time foi definido com 30
dias de antecedência do início da Copa, quando o da Alemanha se preparava há
muito mais tempo para a disputa de um título. O time do Brasil treinou pouco e
isso também fez a diferença. O psicológico sem o técnico não é nada e do
contrário a premissa também é verdadeira. Contudo, a técnica não permite que um
time seja atropelado como ontem, o psicológico sim, ou seja, de nada adianta o
trabalho psicológico exagerado se estamos colocando pouco a mão na massa.
De
nada adianta termos uma equipe de vendas motivada se os vendedores não gastam a
sola do sapato na rua vendendo.
É importante lembrar que não existe um modelo de trabalho
pronto e imutável. A estratégia da equipe deve ser montada de acordo com o
perfil de seus integrantes.
Fomos “atropelados” pela falta de técnica, o que abalou
totalmente o psicológico. Os empresários são “atropelados” pelo mesmo motivo. O
time de uma empresa deve estar preparado para atuar de diversas formas.
O sistema Toyota de produção funcionou e é case de sucesso
até hoje como o sistema japonês de produção. Mas será que, se apenas pegarmos
as teorias do STP, darmos um “ctrl+C/ctrl+V” em nossas indústrias brasileiras
teremos o êxito alcançado no Japão?
Não deveríamos adequá-lo à nossa realidade econômica e de
pessoal e partir para o que chamamos de reengenharia?
Outro ponto importante é:
cuidado ao colocar sua operação nas mãos de apenas um ou dois
colaboradores. Eles podem sofrer um acidente de percurso e precisar de
afastamento. Trabalhe a liderança e a sucessão em todo time, pois quando menos
esperamos podemos ter que eleger um novo capitão. Tenha um líder em todos os
processos, pois eles alertam a equipe e ao gestor para os prováveis “furos de
marcação”.
Em time que está ganhando se mexe, sim!
Principalmente, se
estamos ganhando nos pênaltis contra concorrentes medianos.
Enfim, a essência de tudo é o planejamento conciso.
Planeje, teste a equipe, mude, teste novamente. Verifique o
mercado, os clientes, os concorrentes; olhe de fora para dentro e tenha a
certeza de que está mirando no alvo certo e com as pessoas certas. Replaneje e
tenha a certeza de que foram verificadas todas as variáveis possíveis e que
mitigamos tantos riscos quanto poderíamos.
O processo é montado de forma que cada jogador seja peça
fundamental na conquista dos objetivos e seja devidamente treinado para
enfrentar os perigos do dia-a-dia.
E lembre-se: o
Jogador ganha o jogo, o Time ganha o campeonato...