quinta-feira, 3 de março de 2016

Quem avalia os Avaliadores?






Um tema forte de nossos tempos é a sustentabilidade. Assim como outros casos que viraram história, para muitos a sustentabilidade é a resposta para todos os males do mundo moderno.

Embora haja diferentes nuances nas definições de sustentabilidade, elas desembocam, ou pelo menos tangenciam, em questões éticas. E é ao evitar ou esquecer de discutir tais questões que podemos cometer algumas injustiças.

Considero o desempenho das pessoas uma das peças fundamentais para a sustentabilidade das empresas. Por isso, proponho uma reflexão sobre sustentabilidade e ética numa etapa crítica da gestão de pessoas:  a AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO. Usarei três lentes para olhar a questão:  RESPEITO, LEALDADE e TRANSPARÊNCIA.

Se olharmos isentamente tal processo, podemos notar que possuem muitas características de um verdadeiro tribunal, sem defesa e sem júri. Entretanto, ele é fundamental e imprescindível para o sucesso, tanto das organizações como das pessoas que a constituem. Por isso, defendo que seja mantido e valorizado sem perder de vista seus aspectos éticos que podem causar impacto na vida das pessoas e não apenas dos profissionais.

Quanto aos processos de avaliação – e o uso que se faz dos seus resultados – respeitam as pessoas como seres humanos? 

Quem avalia o desempenho deve entender que seu pronunciamento é uma verdadeira sentença, que podem alavancar ou bloquear uma vida profissional e pessoal. Vai decidir, ou pelo menos influenciar, o futuro da pessoa avaliada. 

Mas, atenção! 

Não é só o futuro profissional. Trata-se da vida de alguém que tem família, amigos e sonhos. O desempenho profissional é apenas um dos componentes do mosaico que é a vida de cada um. Não podemos limitar as pessoas a serem apenas o capital humano das empresas. Respeitar o ser humano que está sendo avaliado é a primeira das lentes que proponho para olhar esse processo. E pode ser a menos difícil de usar.

A lealdade talvez seja o item mais crítico a ser observado. Lealdade aqui significa usar o instrumento de avaliação sem finalidades do jogo político ou financeiro. 

Quem avalia tem condição de se isentar de opiniões pessoais, potencialmente contaminadas com sentimentos de simpatia ou aversão? 

Há uma preparação cuidadosa dos avaliadores para serem juízes do desempenho? 

E como são preparados os avaliados para interagirem com o avaliador? 

Quem avalia o avaliador? 

A avaliação é fundamentada em observações criticamente criteriosas, que consideram todas as variáveis que podem impactar o desempenho? 

E, ainda sob esta lente, o uso que se faz dos resultados da avaliação está focado apenas nos interesses da empresa ou há espaço para valorizar o ser humano e suas aspirações pessoais?

Reconheço que as organizações, empresariais não devem nem podem ser instituições de benemerência. Elas sobrevivem pelo desempenho das pessoas que a corporificam.
E é aí que entra a lente da transparência. O bom desempenho é indispensável para a sustentabilidade das organizações, mas não pode deixar de lado a sustentabilidade da pessoa avaliada. O avaliado deve ter claro o que se espera dele; precisa ser informado claramente sobre como está sendo observado seu desempenho. Tem todo o direito de saber os planos reais que a empresa tem para ele:  sejam de progresso, correções ou até realinhamentos da carreira e desligamento. Sem eufemismo que lancem verdadeiras cortinas de fumaça sobre questões delicadas. É através do tratamento justo e aberto que uma pessoa que trabalha em uma organização pode ser considerada não apenas por seu valor, como um objeto, mas como um ser humano integral.

Claro que estas questões não são fáceis de serem respondidas, ainda. Meu intuito é provocar a discussão do tema. Não podemos, todos os responsáveis pela gestão de pessoas, ter receio de enfrentar os aspectos mais difíceis. É fazendo perguntas e buscando as respostas para elas que o ser humano evolui.


Fica a dica...