Um tema forte de nossos tempos é a sustentabilidade. Assim
como outros casos que viraram história, para muitos a sustentabilidade é a
resposta para todos os males do mundo moderno.
Embora haja diferentes nuances nas definições de
sustentabilidade, elas desembocam, ou pelo menos tangenciam, em questões
éticas. E é ao evitar ou esquecer de discutir tais questões que podemos cometer
algumas injustiças.
Considero o desempenho das pessoas uma das peças
fundamentais para a sustentabilidade das empresas. Por isso, proponho uma
reflexão sobre sustentabilidade e ética numa etapa crítica da gestão de
pessoas: a AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO.
Usarei três lentes para olhar a questão:
RESPEITO, LEALDADE e TRANSPARÊNCIA.
Se olharmos isentamente tal processo, podemos notar que
possuem muitas características de um verdadeiro tribunal, sem defesa e sem
júri. Entretanto, ele é fundamental e imprescindível para o sucesso, tanto das
organizações como das pessoas que a constituem. Por isso, defendo que seja
mantido e valorizado sem perder de vista seus aspectos éticos que podem causar
impacto na vida das pessoas e não apenas dos profissionais.
Quanto aos processos de avaliação – e o uso que se faz dos
seus resultados – respeitam as pessoas como seres humanos?
Quem avalia o
desempenho deve entender que seu pronunciamento é uma verdadeira sentença, que
podem alavancar ou bloquear uma vida profissional e pessoal. Vai decidir, ou
pelo menos influenciar, o futuro da pessoa avaliada.
Mas, atenção!
Não é só o
futuro profissional. Trata-se da vida de alguém que tem família, amigos e
sonhos. O desempenho profissional é apenas um dos componentes do mosaico que é
a vida de cada um. Não podemos limitar as pessoas a serem apenas o capital
humano das empresas. Respeitar o ser humano que está sendo avaliado é a
primeira das lentes que proponho para olhar esse processo. E pode ser a menos
difícil de usar.
A lealdade talvez seja o item mais crítico a ser observado.
Lealdade aqui significa usar o instrumento de avaliação sem finalidades do jogo
político ou financeiro.
Quem avalia tem condição de se isentar de opiniões
pessoais, potencialmente contaminadas com sentimentos de simpatia ou aversão?
Há uma preparação cuidadosa dos avaliadores para serem juízes do desempenho?
E
como são preparados os avaliados para interagirem com o avaliador?
Quem avalia
o avaliador?
A avaliação é fundamentada em observações criticamente
criteriosas, que consideram todas as variáveis que podem impactar o desempenho?
E, ainda sob esta lente, o uso que se faz dos resultados da avaliação está
focado apenas nos interesses da empresa ou há espaço para valorizar o ser
humano e suas aspirações pessoais?
Reconheço que as organizações, empresariais não devem nem
podem ser instituições de benemerência. Elas sobrevivem pelo desempenho das
pessoas que a corporificam.
E é aí que entra a lente da transparência. O bom desempenho
é indispensável para a sustentabilidade das organizações, mas não pode deixar
de lado a sustentabilidade da pessoa avaliada. O avaliado deve ter claro o que
se espera dele; precisa ser informado claramente sobre como está sendo
observado seu desempenho. Tem todo o direito de saber os planos reais que a
empresa tem para ele: sejam de
progresso, correções ou até realinhamentos da carreira e desligamento. Sem
eufemismo que lancem verdadeiras cortinas de fumaça sobre questões delicadas. É
através do tratamento justo e aberto que uma pessoa que trabalha em uma
organização pode ser considerada não apenas por seu valor, como um objeto, mas
como um ser humano integral.
Claro que estas questões não são fáceis de serem
respondidas, ainda. Meu intuito é provocar a discussão do tema. Não podemos,
todos os responsáveis pela gestão de pessoas, ter receio de enfrentar os
aspectos mais difíceis. É fazendo perguntas e buscando as respostas para elas
que o ser humano evolui.
Fica a dica...