Se você já se sentiu menos competente do que realmente é em
algum momento da carreira, não há por que se preocupar, pois não se trata de
uma doença.
Síndrome do Impostor é um nome popular que caracteriza o
sentimento de fraude no trabalho, ou seja, o ato de questionar os méritos
pessoais e buscar as justificativas para o sucesso em fatores externos, como
sorte, ajuda ou indicações.
Esse comportamento é típico dos grandes realizadores. Consta
que o gênio renascentista Leonardo da Vinci, por exemplo, sofria desse mal. “Eu tenho ofendido a Deus e à humanidade,
porque meu trabalho não alcançou a qualidade que deveria”, teria dito Leonardo
da Vinci no fim de sua brilhante e produtiva vida.
A sensação de ser uma fraude no trabalho atualmente é ainda
mais presente na sociedade por dois fatores. Primeiro, as pessoas ficaram mais
exigentes consigo mesmas na busca do sucesso. Segundo, o meio digital
intensificou o hábito de se comparar aos outros, o que reforçou a presença da
síndrome na vida das pessoas.
Existe muita competição, os profissionais querem ser os
melhores em seu emprego e não se contentam mais em ser apenas bons o
suficiente. A síndrome do impostor faz parte da essência do ser humano. Todos
podem ter essa experiência em alguma fase da vida.
O problema é ainda mais sério em profissionais jovens, que
ocupam a maioria dos postos de trabalho do mercado hoje. São pessoas que
tiveram a carreira acelerada para ocupar os muitos cargos que se abriram no
período de relativa expansão da economia brasileira nos últimos dez anos. Muita
gente, ao chegar precocemente a determinada posição, sem ter passado pelas
necessárias experiências de sucesso e de fracasso, desenvolveu algum grau de
síndrome do impostor. O perfil que mais exemplifica isso é o trainee,
profissional que é preparado em laboratório para ocupar muito cedo cargos de
liderança, chefiando até mesmo colegas mais experientes.
A sensação de fraude nasce de um desequilíbrio entre
responsabilidade e autoridade. Quando falta experiência para assumir
responsabilidades de alto nível, o indivíduo pode ter medo de não dar conta do
trabalho.
Já profissionais competentes, mas desprovidos da autoridade
necessária para solucionar
as tarefas, desenvolvem um desagradável sentimento
de baixa autoestima, que dificulta o crescimento na carreira. Parte da culpa
pelo desenvolvimento da síndrome em jovens profissionais é da pressão das
empresas pela entrega de resultados quase inalcançáveis, o que provoca uma sensação
de estar sempre em dívida. Em outros casos, a pressão é imposta pelo indivíduo
que, por buscar um elevado status social, nunca está satisfeito com o que
consegue produzir.
COMO SURGE A SÍNDROME
A síndrome tem fundo psicológico. O problema só se
desenvolve em pessoas que alcançaram algum tipo de realização: promoções no escritório, boas notas, livros
publicados, prêmios, pesquisas desenvolvidas.
Caso contrário, não haveria motivos para se sentir um
embuste. Pessoas de qualquer idade podem sofrer com o problema, independentemente
do nível de carreira em que se encontram. Muita gente inicia esse sentimento na
infância, quando recebe comentários negativos sobre si mesma. O profissional
cria uma imagem negativa que o faz pensar que não pertence ao lugar de destaque
que conquistou.
Líderes e executivos de alto nível que estabelecem relações
tensas com seus subordinados frequentemente escondem um sentimento de impostor.
Os chefes tentam blindar a insegurança com atitudes arrogantes e autoritárias,
que intoxicam o ambiente e prejudicam a segurança de toda a equipe.
É mais fácil identificar o sentimento de trapaça quando o
portador exerce grande poder de influência dentro da organização. A situação
fica óbvia quando os liderados perdem a confiança e não conseguem se inspirar
no líder ou quando o próprio líder começa a perder o prazer de trabalhar.
Muitos deles se tornam workaholics e atribuem seu sucesso ao fato de que
trabalham mais do que os colegas. Por medo que os outros descubram sua suposta
fraude, o gestor centraliza o poder e impede que outros se mostrem mais fortes
do que ele.
Para quem está nos estágios iniciais de carreira, a síndrome
aparece de forma mais sutil. Pequenas atitudes, como negar um elogio, manter
distância dos colegas ou ser generoso demais, indicam possíveis sintomas.
Quando o indivíduo escolhe seguir uma profissão, espera-se que ele trace o caminho
que pretende seguir para chegar àquilo que considera o topo, o que na maioria
das vezes, é uma missão quase impossível.
Frustrado por se sentir incapaz de tornar-se a figura que
sempre sonhou, o profissional deixa de celebrar os obstáculos que, por mérito,
foi capaz de superar. É comum pensar que nada do que fez foi realmente
especial. As pessoas querem ser líderes de destaque, mas não percebem que são
líderes todos os dias. Alguns portadores da síndrome optam por minar as
próprias metas. Assim, conseguem comprovar a tese inventada por eles mesmos de
que não seriam capazes de ir até o fim.
A pessoa tem capacidade, mas desencadeia uma série de
obstáculos que dificultam a conclusão da tarefa. Porque, se der tudo certo, ela
vai ganhar uma projeção por algo que considera não merecer e não ser capaz de
sustentar. Procrastinar e deixar a execução da tarefa para a última hora é a
característica mais comum da autossabotagem.
Casos agudos de síndrome do impostor também aparecem em
profissionais que batalharam muito ao longo da vida. Quando chegam ao topo e
não enxergam mais possibilidades de crescimento, frustam-se pela falta de novos
desafios diários. Os falsos impostores sempre esperam que algo pior aconteça e,
quando as coisas fluem naturalmente, pensam que fizeram alguma coisa de errado
ou que não chegaram aonde gostariam.
PRINCIPAIS VÍTIMAS
Quando os psicólogos começaram a pesquisar a síndrome do
impostor, na década de 70, acreditava-se que o problema era majoritariamente
feminino, por todas as dificuldades que as mulheres enfrentam para entrar no
mercado de trabalho. Com o tempo, constatou-se que o sentimento atingia tanto
homens quanto mulheres, porém os homens sempre foram mais encorajados a fingir
ter confiança para alcançar o sucesso. Por isso as mulheres costumavam apontar
casos mais agudos da síndrome.
Qualquer pessoa que tenha sofrido preconceito por gênero,
cor ou cultura está mais propícia a se sentir uma fraude. Em geral, as pessoas
que se dizem impostoras tendem a atingir resultados maiores do que aquelas que
são muito seguras em relação a si mesmas, porque se esforçam mais para que os
outros não descubram sua suposta incompetência. Pessoas ignorantes em relação a
um tema acham que sabem mais do que os bem preparados, porque não entendem a
responsabilidade que seria necessária para falar sobre o assunto.
A ignorância gera mais confiança do que o conhecimento em
si.
O LADO POSITIVO
Em doses moderadas, a síndrome do impostor não é algo ruim.
De certa forma, ela serve como impulso para que as pessoas busquem melhorar e
atingir novos desafios. É altamente positivo querer sempre ser o melhor naquilo
que faz. Mas quando o profissional acredita que engana os outros que o admiram,
por achar que não é competente para ocupar sua posição, o estímulo se
transforma em angústia permanente.
Para superar esse fardo, é preciso aprender a anular o
sentimento de impostor e entender que, embora a sorte possa até trazer
situações favoráveis ao crescimento, só consegue se manter bem-sucedido quem
faz por merecer.
“Se a lição de casa está feita, pare de relembrar as falhas e aprenda a
celebrar cada etapa de seu triunfo. Afinal, uma conquista grande sem celebração
não vale nada.”
Fica a dica...