terça-feira, 23 de novembro de 2010

Fracassos



Leio muito e é comum sermos presenteados com as melhores práticas do mercado, cases que deram certo e tudo o mais. Contudo, o que ninguém fala é o que deu errado. Isso mesmo, vamos falar sobre o que não deu certo.

E por que não?

Se é com os erros que aprendemos, deveríamos também fazer artigos sobre as práticas e as iniciativas que não deram certo. Mas, na era do marketing pessoal, ninguém quer saber de compartilhar os fracassos.



Em geral, posso adiantar que existe uma variável muito importante para o sucesso ou o fracasso na implantação e na utilização de qualquer metodologia: o ser humano. Isso mesmo. Aquele que tem a incrível habilidade de derrubar qualquer ideia, por mais maravilhosa que seja.


Já vi pessoas negociarem avaliações de desempenho, para não se exporem aos gestores ou ao RH. Já vi pessoas passando por processos de e-learning como quem passa por páginas de uma apresentação de PowerPoint sem o menor constrangimento.

Outro campeão do boicote é o teste em processo seletivo. Numa grande empresa com muitas filiais, já vi gerentes encantarem-se com os candidatos e enviarem ao RH testes feitos por eles mesmos, a fim de garantir que o candidato escolhido passasse pelo crivo do RH.


Já vi pontos eletrônicos virarem brinquedos na mão daquele que quer estender um pouquinho seu horário de almoço, ou aquele que dá uma "fugidinha" inocente no meio da tarde.

Ou seja, nunca subestime a criatividade das pessoas para boicotar métodos e processos, principalmente dos brasileiros, que são muito habilidosos para "dar um jeitinho".


Então, além do ser humano, o que temos mais? Ah, sim! O "copia/cola". Métodos, iniciativas, inovações que deram certo num local, não são garantia de sucesso em outros contextos. Fatores como a cultura da empresa, o perfil de seus líderes, a maturidade da equipe, os valores em questão, enfim, tudo isto varia muito de uma empresa para a outra e estas variáveis podem fazer de uma iniciativa um sucesso ou um fracasso absoluto.


Não precisa ir muito longe. Comece observando detalhes básicos. Por exemplo: alguém conhece o ponto eletrônico biométrico, aquele onde a pessoa registra as entradas e saídas colocando as digitais num moderno aparelho? Pois bem, tente implantá-lo num local onde os operários têm suas digitais comprometidas por graxa ou produtos químicos. Nem preciso dizer os riscos desta implantação, não é?

Outro exemplo é o sistema de remuneração. Não adianta querer implantar remuneração variável com complexos sistemas de indicadores de desempenho numa empresa que não tem cultura de meritocracia, onde os funcionários são recompensados pelo tempo de empresa, ou pela carteira de clientes, enfim, por quaisquer motivos que não são seus resultados. O que teria por objetivo motivar, se transformará em razão para queixas e desmotivação.

Antes de "copiar/colar", estude e avalie. Dificilmente um case de sucesso numa empresa repete o resultado num outro contexto, se transportado literalmente com as mesmas bases e condições.

Por fim, estas duas variáveis (pessoas e contexto) são fundamentais para o sucesso ou fracasso de uma iniciativa, mas é claro que não são as únicas. Não podemos esquecer as políticas governamentais, a estratégia da organização, a situação econômica, os stakeholders.

O importante é lembrar sempre que, ao nos encantarmos com novas tecnologias, métodos, processos, ideias, etc., antes de sair desesperadamente implantando, vamos olhar além e avaliar todas estas variáveis, pois elas poderão transformar o seu case de sucesso naquele case de fracasso que você nunca vai conseguir esquecer.