quinta-feira, 26 de maio de 2011

Dar tempo ao tempo




Confesso-lhes, que gostei muito do livro NÃO APRESSE O RIO – ELE CORRE SOZINHO. Gosto do título, que é um achado, e gosto muito de seu conteúdo. É da escritora norte-americana Barry Stevens que, hoje, se viva está, estaria com mais de 100 anos. Ela nasceu em 1902. Eis como ela se refere ao seu livro:

“O título é uma citação Zen. Para mim, significa deixar-se ir junto com a vida, sem tentar fazer com que algo aconteça, mas simplesmente ir, como o rio; e, sabe, o rio, quando chega nas pedras, simplesmente se desvia, dá a volta; quando chega a um lugar plano, ele se espalha e fica tranqüilo, simplesmente vai se movendo junto com a situação em torno, qualquer que seja ela.  Ficou claro para você o que isso significa para mim? E eu acho interessante que há muitas viagens por rio aqui nas redondezas – não sei se você sabe, há o Rio Colorado e o Rio Verde e o Rio Dolores, e há muita gente que ganha a vida e passa a maior parte dela no rio, e para essa gente o título tem muito significado, porque precisam acompanhar o rio, ou, então, se metem em apuros. Se o rio os leva desta maneira em águas agitadas, não adianta tentar escapar daquele maneira: eles precisam ir junto, e por isso o título significa tanto.”

E você, como está vivendo em relação ao seu rio? 

Você o está apressando ou deixando-se levar por ele? 

Você briga com suas correntezas e remansos, ou os admira e se irmana com eles? 

É preciso meditar e pensar no tempo de nossa vida e no rio em que estamos mergulhados.
Há grande sabedoria neste singelo ensinamento: “O que o tempo traz, o tempo leva”. Nada é para sempre, nem a dor, nem o fracasso, nem as perdas ou vitórias. Popularmente se diz: “Não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe”.

O que todo mundo aceita em teoria e sabe, nem sempre o vive na prática. Em nossas experiências de vida, parece haver, às vezes, uma conspiração diabólica da qual somos, ao mesmo tempo, agentes e vítimas. Em toda a parte, há pessoas que gostam de sofrer e alongam o sofrimento para além dos limites inevitáveis. Em Psicologia, diz-se que tais pessoas são masoquistas. Encontram prazer em cozinhar, em banho-maria, ou dramaticamente, o próprio sofrimento.

Curtidores de tragédias, seus rostos apresentam-se sempre sombrios, de suas bocas não saem senão lamúrias e infelicidades. São como uma praia em que não há crianças que brincam nem banhistas que se divertem. Comprazem-se em se expor com tristeza para merecer a consideração dos outros. Vivem seus males sem pudor e os usam e deles abusam como forma egocêntrica de aparecer. São amargas e pesadas.

Em verdade, não há como evitar o sofrimento. Ele é quota inevitável de qualquer viver. Tais pessoas, no entanto, deveriam saber que dá para explorar seus fermentos de excelência. É importante não colocar o sofrimento como uma divindade no altar da consciência, mas, sim, marginalizá-lo. Não dá para esquecê-lo, dá, porém, para relativizá-lo. E, principalmente, dá para ocupar o tempo com coisas mais sadias e positivas do que com possíveis derrotas.
Não deveria o mal servir para nos deprimir exageradamente nem o bem para nos enaltecer. 

Somos uma vida em comunhão e não um palco para o desfile de um eu doentio. Qualquer destaque que damos às nossas vicissitudes fecha-nos e torna-nos infecundos. Diante das vitórias, não podemos envaidecer-nos e diante das derrotas, sentir-nos diminuídos. É sempre bom lembrar que somos uma soma de fatos e traços que formam o que chamamos de vida e a vida é para ser trabalhada e partilhada e não exaltada contra os outros e chorada em benefício próprio.

Aliás, olhando para nosso passado, concluímos pela pouca relevância de acontecimentos que nos pareceram tão significativos. O tempo foi dando aos fatos seu verdadeiro tamanho e caráter.

As coisas só nos afetam quando lhes conferimos, emocionalmente, importância imprópria e exagerada.

No fundo, pode a pessoa, momentaneamente, sentir a síndrome do ninho vazio e, quando este ninho se torna frio, a pessoa sentir-se-á certamente abandonada, solitária e infeliz. Nestas horas é que vale e ajuda o provérbio popular: dar tempo ao tempo. O tempo é nosso melhor companheiro de vida. Com ele, nosso ninho poderá voltar a ter nova vida, se não o inundarmos com lágrimas desnecessárias e masoquismos doentios e insustentáveis. Possivelmente reencontraremos, então, o calor desejado, experimentando maior confiança em nós mesmos, coisa momentaneamente abalada ou perdida.

Finalizo com a palavra de alguns Mestres Espirituais:

1. Afirmou o grande escritor belga, Phil Bosmans, nascido em 1932 e falecido em fins de 2004: “Arranje tempo para ser feliz! Tempo não é pista de corrida entre berço e sepulcro, mas um lugar para estacionar ao sol”.

2. Não se esqueça do título do livro de Barry Stevens, escritora norte-americana: “Não apresse o rio. Ele corre sozinho”.

Dê tempo ao tempo...