domingo, 1 de maio de 2011

Vida Familiar x Carreira Profissional



Imagine a situação: você foi pedida em casamento mas, duas semanas depois, recebeu a resposta sobre atão esperada bolsa para fazer um mestrado no exterior e ficar uns três anos fora. E aí, o que você faz? 

Se você é daquelas que acredita que não se pode ter tudo ao mesmo tempo, saiba que fazer um planejamento de casamento e carreira é altamente recomendável. Mesmo que às vezes surjam pequenos imprevistos.

Com as mulheres ganhando cada vez mais status na carreira, nem sempre elas dão a devida atenção à parte pessoal e sentimental. Em outras vezes, abdicam do sucesso na profissão para se dedicar à família e ao casamento. Das duas formas não há como fugir da dúvida: e se eu tivesse tomado o rumo contrário? 


Para que não haja arrependimentos é fundamental pensar bastante antes de tomar uma grande decisão. 
A dica é perguntar a si mesma por que está fazendo aquilo, se é o que realmente deseja ou se está presa à vontade de agradar a alguém, imaginar-se na situação e pensar se a fará feliz.
 
“Para que a vida pessoal não atrapalhe o trabalho, deve haver uma boa administração das duas partes. A escolha da carreira é uma decisão de longo prazo”

A publicitária Beatriz Souto sempre teve vontade de fazer pós-graduação no exterior e sonhava com estágios em grandes empresas ou redes de hotéis. No entanto, o relacionamento longo e estável que desenvolveu com seu namorado a fez repensar suas prioridades. "Eu namorava há quase quatro anos e pensávamos em nos casar. Já tinha conversado com ele sobre a pós nos EUA, mas por ele estudar Direito dizia que não valeria a pena, por todas as diferenças de legislação. Mas eu estava tão feliz que tinha colocado a idéia da viagem de lado", lembra.

O problema veio quando a formatura de Bia chegou e não houve verba para efetivá-la em seu estágio. "Fiquei triste, mas continuei procurando outras coisas. Nessa época, o Felipe passou na prova da Ordem (OAB) e foi chamado por um escritório onde já havia estagiado. Comecei a ver minha carreira estacionar sem nem ter dado a partida. E a idéia de estudar fora voltou com força total", diz ela.

Só que a reação do moço não foi das melhores. "Ele começou a me tratar mal e dizer eu não serviria para sua esposa, pois não priorizava minha relação com ele. Achei um absurdo, ele nunca tinha agido daquela forma. Tentei conversar, mas o lado machista realmente tomou conta. Encerrei o namoro, não dava para levar adiante", conta, chateada. Ela não queria nada impossível. Aliás, as qualidades que buscava em seu namorado são essenciais para a durabilidade de qualquer relação: compreensão e parceria.


Compreensão e parceria
A consultora de RH Diana Mochcovitch concorda e vai além: ela diz que não há como equilibrar um casamento se a dupla não puder contar com estas características. "Horas-extras, viagens, dificuldades e preocupações são muito comuns atualmente e devem ser compreendidas por ambos como parte do caminho para o crescimento no mercado. O comprometimento deve existir mesmo que a situação seja inaceitável para uma das partes. Por exemplo, um cargo fora do país ou mesmo em outra cidade", explica. Nesse caso, deve-se chegar a um consenso do que é mais importante e até abrir mão daquela posição se for o caso. "Eventualmente, ambos farão concessões, por isso parceria e equilíbrio são superimportantes", comenta.
Vanessa Sato foi mais bem recebida pelo namorado quando chegou com a novidade que mudaria suas vidas: estava grávida. Namorando há nove anos e já com casamento marcado, foi ela quem reagiu mal à descoberta. "Só pensava em ter filhos no mínimo um ano depois de me casar. Tinha acabado de me formar em Educação Física e queria fazer um mestrado. Mas ele ficou superfeliz e me apoiou o tempo todo. Quando a Luiza nasceu, ele foi, e ainda é, muito companheiro. Dividiu comigo todas as funções, só faltou amamentar", brinca ela.
De acordo com Diana, outro fator que faz diferença para manter a harmonia é a organização. "Para que a vida pessoal não atrapalhe o trabalho deve haver uma boa administração das duas partes. A escolha da carreira é uma decisão de longo prazo. Quando se é solteira, tudo é mais simples, mas mesmo quando existem marido e filhos envolvidos, um bom planejamento facilita muito", afirma.

Vários aspectos devem ser levados em consideração quando se pensa em formar uma família, como o número de filhos que se deseja (é muito mais viável administrar as coisas com duas crianças do que com cinco), quem vai buscá-los na escola e em cursos, quem vai tomar conta deles quando estiverem em casa, há toda uma logística incluída nesta decisão.

"Tudo deve ser bem esquematizado, porque o empregador pode entender da primeira ou segunda vez que precisar se ausentar, mas se for uma constante você correrá riscos. Não tente resolver com o famoso 'jeitinho'. Se o seu filho sai da escola às 17h30 e você tem de pegá-lo, não pode trabalhar em um local com horário até às 18h ou onde horas-extras são frequentes. Também não adiantará ter alguém que pode pegá-lo duas vezes por semana. Isso cai na questão da escolha. Quando decide ter um filho, deve pesar o fato de que você poderá ter que abrir mão da ascensão profissional em alguns momentos", alerta a consultora de RH Diana Mochcovitch.
 
“Como a mulher é a única que usufrui licença-maternidade, terá sempre esta desvantagem em relação ao homem. Se quiser crescer na carreira, deve competir de igual para igual, colocando-se disponível como um homem o faria”

Antes mesmo de o bebê nascer, há um outro fator a ser considerado: o afastamento da empresa. A legislação brasileira diz que a mulher tem direito a 120 dias de licença-maternidade (a lei que amplia o período para 180 dias é facultativa). Além disso, muitas mulheres tiram férias logo após este período, o que totaliza cinco meses fora do mercado. Sem dúvida, uma fase importantíssima de entrosamento entre a mãe e o recém-nascido, que envolve entre outras a questão da amamentação, benéfica e necessária à saúde do bebê.


Entretanto, a relação estabelecida entre empresa e funcionário é meramente profissional. "Emprego é uma coisa fria, não há relações pessoais. O empregador não tem nada a ver com a visão umbilical que a mãe desenvolve em relação ao filho. A empresa não pára. Se outra pessoa na mesma função rendeu mais do que quando você estava ali, há chances de ser substituída. Não é nada contra a pessoa, mas tem sempre alguém com destaque maior em cada momento, isto é próprio da dinâmica do trabalho", comenta Diana.

A consultora diz que os motivos de afastamento podem ser vários, como uma doença ou um curso no exterior, e não necessariamente isto ocorrerá devido à gravidez. "Mas como a mulher é a única que usufrui licença-maternidade, terá sempre esta desvantagem em relação ao homem. Se quiser crescer na carreira, deve competir de igual para igual, colocando-se disponível como um homem o faria", esclarece.


Organização, compreensão e parceria
Assim, não deve ser o caso de se desistir do sonho de ser mãe, mas apenas avaliar quando será o melhor momento. Talvez voltar mais cedo às suas funções seja uma possibilidade. Para a empresa, pode ser interessante tê-la de volta antes do prazo, mesmo que seja por meio período. E tenha sempre em mente as três palavrinhas mágicas: organização, compreensão e parceria. Até porque, para que seus filhos e seu companheiro adotem a tríade, você tem que ser a primeira a praticar. Dê o exemplo!

No mais, relaxe e não tente projetar todos os segundos do seu dia. Enquanto planejamos, a vida está acontecendo lá fora. Muitas vezes novos componentes surgem e nem sempre tudo sairá como foi pensado e tudo bem. O fator surpresa serve para dar um tempero de vez em quando. Beatriz e Vanessa definitivamente concordam. "Viajei, fiz muitos cursos, consegui o tão desejado estágio em um hotel em Las Vegas e quando voltei para o Brasil tinha vivência internacional, fluência em inglês e uma experiência que nunca conseguiria aqui. Sofri sim, quando terminei o namoro, mas foi muito bom ter observado estas atitudes naquele momento. Imagine se eu casasse com aquele sujeito! Estaria muito infeliz", finaliza Bia.

E Vanessa não poderia estar mais satisfeita com o desfecho de sua situação. "Fiquei assustada, pois minha vida estava toda esquematizada. Como trabalhava em um estúdio de condicionamento físico, pegando muito peso o dia todo, tive de sair do emprego. Também enjoei muito durante a gravidez. Mas não me arrependo de nada. Acabei descobrindo uma atividade paralela à minha profissão: o artesanato. Sempre gostei de fazer brincos e cordões, mas nunca tinha pensado em ganhar dinheiro com isso. Por ficar muito em casa, devido aos enjôos, comecei me dedicar e logo tinha muitas peças. Decidi colocá-las em exposição e deu certo, tanto que não parei mais. Mas o principal é a Luiza. Ela é tudo na minha vida. Está com dois anos e é a nossa paixão. Não imagino minha vida sem ela", relata Vanessa.

Na minha humilde opinião, escolha os dois: com um pouco de planejamento dá para encontrar o equilíbrio. Pois como diria um ditado de meu pai:  "Calma, Paciência e Canja de Galinha não faz mal a ninguém...".