segunda-feira, 16 de julho de 2012

Programados Para o Apego...




“Certo dia, enquanto brincava com um vaso valioso, um garotinho colocou a mão dentro dele e não conseguiu tirá-la. Seu pai tentou ajuda-lo, mas não obteve êxito. Eles já estavam pensando em quebrar o vaso, quando o pai disse:  “Vamos, meu filho, faça mais uma tentativa. Abra a mão, estique os dedos da maneira como estou fazendo e puxe-a com força.”
Para sua surpresa, o garotinho disse:  “Não posso, papai. Se eu esticar os dedos, minha moeda vai cair dentro do vaso”.”


Essa história que envolve o apego de uma criança ao seu objeto de desejo é perfeitamente adaptada aos adultos. Quem de nós não é apegado às pequenas coisas do mundo a ponto de não aceitar a libertação? Apegamo-nos a casas, a cidades, aos carros, aos móveis, ao dinheiro, ao emprego, à carreira, à rotina, à família, aos amigos, a roupas, ao sapato, aos livros, entre outras coisas.

Acreditamos que isso está correto. Sentimos uma obrigação instintiva ao apego. Pensamos que o que conquistamos é nosso de fato e de direito. Aí, tomamos conta. Apoderamo-nos; defendemos com todas as forças.

Nas organizações encontramos profissionais inteligentes e altamente capacitados, porém transformam facilmente competência em mesquinharia. Explico: 


Sabe aquele colega que se apodera da sua própria idéia, impedindo que o grupo a utilize e a transforme em solução?

Lembra aquele departamento que insiste em inflar o ego alegando que determinado projeto tem dono?

Sabe aquele colaborador que se apegou tanto à função que exerce que chega a adoecer com a possibilidade de um remanejo entre setores?

E aquela organização que julga sua vida útil eterna, apegada a um jeito de funcionar e a uma estrutura arcaica?

Lembra aquele colega que está tão apegado ao seu mau humor que se recusa a ouvir sugestões de melhoria?

E o grupo de colaboradores apegado a um determinado ritmo e, incapaz de abrir mão do conforto para buscar um novo estilo?

Sabe aquele planejamento estratégico elaborado e aprovado, mas que no decorrer do tempo necessitaria de ajustes, mas que por apego à criação jamais acontecerá?


Ao considerar que todos nós somos apegados a alguma coisa ou situação, dentro ou fora de uma organização, pergunto:  quanto o meu nível de apego pode ser considerado mesquinho?

Se for classificado como mesquinho, está na hora de uma atitude. A mesquinhez altera o nosso grau de domínio. O domínio doentio não é exatamente a saída para as organizações aprimorarem suas relações com o cliente interno nem o externo. O colaborador que possui uma forte tendência ao apego interfere na fluidez das informações e na elaboração e execução das estratégias.

Afinal, por conta do nosso domínio carnal e instintivo, fechamos portas e janelas, estradas e trilhas. Ninguém entra e ninguém sai. Acredito na importância de oferecer cursos e treinamentos aos colaboradores, para que todos possam ter acesso a informações de ordem comportamental, além de disponibilizar recursos no sentido de identificar e melhorar o nível de apego.

Reparem que estou usando o termo “nível de apego”, pois acredito que mudamos significativamente o grau e a intensidade, mas dificilmente nos livramos dessa antiga tendência. Um exemplo de nível saudável de apego é quando alguém exerce um alto cargo na empresa e não se sente apegado. Os apegados normalmente são capazes de qualquer loucura para manter, o que consideram, como sendo seu. Quando conquistamos o desapego, evitamos a escravidão. Afinal, torna-se insuportável mantermos em nossa vida aquilo que nos exige demais.

A energia vital que circula no universo recua quando nos apegamos. Fechar-se, apegando-se é um ato de covardia. Soltar a pequena moeda que está dentro do coração é um ato de rendição. Render-se, para que a vida possa exercer a sua força.

Ao contrário do que muitos pensam, a vida tem a sua força e sua missão. Uma das grandes tarefas da vida é nos encaminhar. Para isso, ela precisa que estejamos o mais livre possível dos apegos comuns aos seres humanos.

O conflito aprisiona e impede o ciclo natural das águas. É como a represa:  nela, as águas são impedidas de seguir seu curso, pois alguém se apoderou da sua liberdade. Muitas vezes a vida está esperando que nos desapeguemos de determinado emprego, por exemplo, para nos acenar com uma nova oportunidade. No entanto, quem de nós dá espaço a essa força invisível?

A maioria agarra-se ao que já tem. Infelizmente por conta desse apego exagerado, muito pouco, poderá aproximar-se. Quando o espaço preenchido está ocupado, não há lugar para o novo. Acumulamos objetos inúteis pensando que um dia poderemos precisar. Guardamos raivas e ressentimentos como se fossem troféus. A atitude de guardar potencializa a solidão e aumenta consideravelmente as chances de um fracasso.


Você atrai ou repele?
Como está o seu nível de apego?