O que me desperta o interesse em iniciar o texto com este
trocadilho nada mais é do que a crença de que muitas situações difíceis podem
ser encaradas de uma maneira mais leve do que nos parecem na convivência com
pessoas. Sim, porque conviver com alguém no ambiente de trabalho não implica
conhecer somente os sentimentos aceitos socialmente, mas também os não aceitos.
Conviver com gente significa lidar com todos os tipos de
sentimentos e entre os mais diversos, a inveja. Então, chegou o momento de
pensarmos também na inveja, cuja origem latina é invidere, que significa não ver. Já no dicionário da Língua
Portuguesa, o seu significado é escrito de duas maneiras: Desgosto ou pesar pelo bem ou felicidade de
outrem; e desejo violento de possuir o bem alheio. Ou seja, conforme o seu
significado, a inveja existe quando se tem infelicidade pelo sucesso alheio ou
quando há uma vontade, a todo custo, de ter o mesmo progresso que a outra
pessoa teve.
A inveja é a contrariedade que se sente se outro dispõe do
que se gostaria de ter para si e a impressão concomitante de inferioridade. Ou
seja, a inveja é a indisposição em aceitar que uma determinada pessoa foi
promovida ou teve o seu salário reajustado, enfim, tenha atingido metas que o
invejoso não acredita alcançar para si. E quando isso acontece, este indivíduo
não mede esforços para diminuir ou até mesmo destruir as conquistas da pessoa
invejada.
Ao contrário de um
trabalhador com comportamento aceito como normais, a pessoa invejosa consome
mais energia e esforços para desqualificar o trabalho de um colega, do que para
desenvolver ou melhorar as suas atividades. Com uma piada maldosa ou uma curta
frase lá está ele tentando diminuir a importância e os valores de outro
profissional na equipe.
Uma pessoa que na maior parte do seu tempo cultiva a inveja,
dificilmente elogia ou reconhece as outras pelo simples fato de que não
consegue reconhecer a si mesmo. Para as organizações, este problema pode passar
de um pequeno conflito entre duas pessoas, invejado e invejoso, para um
desafeto geral na equipe e uma consequente queda na produtividade. Neste caso,
se você é o invejado e percebe que não existe um comportamento legitimadamente
ético entre os profissionais no seu trabalho, a única maneira de conseguir
progredir com menos sofrimento é sendo você mesmo, agindo de uma maneira
saudável emocionalmente, buscando os seus ideais e do ponto de vista prático,
documentando processos, arquivando e-mails importantes e capacitando-se sempre.
Apesar da inveja não ser um tema novo nas empresas, - em
Gênesis (Cap. 4 vers. 1-16) mostra que foi por alimentar este sentimento que
Caim levou à morte o seu irmão Abel -, a alegoria de Caim e Abel se mantém até
hoje, nos diferentes níveis hierárquicos e setores. E, de fato, é uma
constatação revivida por todos nós independente do negócio em que atua ou porte
da empresa. Por mais que queiramos acreditar ser um sentimento vivido pelos
outros ou apenas por inimigos, o fato bíblico nos chama a atenção para as
pessoas mais próximas. Basta alguém se despontar por seus esforços e méritos, e
lá está a inveja, quase pronta para dar o bote.
É claro que este texto não objetiva aumentar a paranoia de
ninguém, tampouco afastar as pessoas umas das outras, em virtude do medo de que
estas em algum dia venham tirar o seu chão ou puxar o seu tapete como dito nas
organizações. Muito pelo contrário. O intuito primeiro é aceitar que a inveja
existe; segundo, aceitar que é possível habitar o coração de qualquer ser
humano; e terceiro, refletir sobre uma postura diferente ao senti-la.
Se já sabemos que a inveja existe e que é possível qualquer
um senti-la, resta agora, a terceira proposta. Para quem a sente em demasia,
poderia ser prático e objetivo, dizer:
Olhe para dentro de si. Mas, como não é suficiente, retorno a origem da
palavra inveja, invidere, que
significa não ver. Ao invés de continuar não olhando para dentro de você, não
se vendo, exercite outra atitude:
identifique as suas forças, conheça as suas limitações e desenhe o seu
destino dentro da organização na qual trabalha. Ao conhecer as suas emoções,
fica mais fácil desenvolver-se como pessoa e como profissional.
Ao praticar o autoconhecimento é possível reduzir o seu
sofrimento, sim porque quem somente deseja as flores do jardim alheio também
sofre. Quem nunca se satisfaz com o próprio jardim, sofre tanto quanto aquele
cujas flores foram pisoteadas. Pesquisadores japoneses identificaram que ao
sentir inveja, as pessoas ativam a mesma região do cérebro: córtex dorsal anterior, que é responsável
pela dor física. Portanto, meu caro, sentir inveja pode ser normal e até
aceitável, mas daí a agir de uma maneira imprudente para destruir a imagem do
outro passa a ser digno de atenção.
A inveja desperdiça um espaço não só no cérebro, mas no
coração, que pode ser preenchido, por exemplo, por sentimento de respeito a si
mesmo e, consequentemente, ao colega. Ela está enraizada ao receio de perder,
de não ser amado, não se manter no emprego, enfim, ao medo de que é ampliado
pela própria pessoa que o sente. Entretanto, da mesma maneira pode ser
eliminado a partir do momento que tem clareza sobre a realidade e o contexto,
compreende o universo que a cerca e passa a perceber que o outro também é um
ser humamo.
Se a inveja o consumir, cuide de sua saúde e pense no seu
invejado como um modelo a seguir e não a prejudicar. Reserve as suas energias
para utilizá-las na realização de suas metas. Há sempre alguém melhor em alguma
área. Hoje pode ser o seu colega, amanhã pode ser você. Use as suas virtudes
para o bem. Cada passo dado é merecedor de respeito, seja pelo seu colega, seja
por você. Mas, se até este momento nada do que leu lhe servir, não veja a mim.
Feche os olhos e, com carinho, veja você.