segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Da tolerância a erros à punição: existe uma postura correta por parte do Líder?
Ninguém sabe ao certo quantas vezes Thomas Edison errou para
que acertasse no invento da lâmpada incandescente. Para sanar esta dúvida,
andei perguntando a algumas pessoas aleatoriamente, mas alguns diziam que foram
5 mil tentativas, outros, que foram 1 mil. Um amigo apostava que em um número
ainda maior: 3 milhões. Nem o inventor
deveria saber ao certo.
A questão é que errar é humano. E isso ninguém discute.
Principalmente quando o assunto é trabalho. O problema se dá quando um
profissional não sabe aprender com os erros que comete.
Não é ruim errar. É ruim quando ocorre a repetição dos
erros, em um ciclo destrutivo no qual as pessoas se colocam e não conseguem
sair, pois não aprendem a evita-los. Voltemos ao nosso exemplo, no caso de
Thomas Edison, se ele não tivesse essa capacidade de aprender e encarar o erro
como uma oportunidade, não teria inventado a lâmpada.
Para aprender com os erros, se faz necessária a autocrítica.
O profissional deve avaliar como a qualidade do seu trabalho afeta os
resultados da equipe, da sua área e da empresa. É essencial entender a
realidade que o circunda e ter força para identificar e admitir os pontos
fracos e encará-los de maneira a reverter a situação.
ERRO TÉCNICO OU
COMPORTAMENTAL?
O erro comportamental é, de longe, o mais grave. Erros
técnicos são fáceis de corrigir. Problemas de atitudes são difíceis, porque
muitas pessoas ficam cegas e nem sempre conseguem evitar ou corrigir.
Aprendizado técnico é fácil. Aprendizagem emocional e de atitude é difícil.
O problema é que, geralmente, o erro técnico leva ao erro de
comportamento. Isso porque o ser humano tem dificuldade de aceitar críticas.
São raros – e valiosos – os profissionais que aceitam críticas, reconhecem o
equívoco cometido sem franzir a testa e propõem uma solução definitiva para
ele.
Existe um ponto essencial a ser considerado pelo
gestor: o funcionário que erra com
frequência não pode se colocar no lugar da vítima, embora esta seja a tendência.
É da natureza do ser humano, na tentativa de preservar sua autoestima, se
defender colocando a culpa em terceiros e não assumindo responsabilidades.
A DEMISSÃO SE
JUSTIFICA?
Dependendo da gravidade do erro e de seus impactos, há quem
opte por desligar o funcionário, sem dar a ele uma segunda chance. Alerto, que
existe uma diferença entre entregar um relatório fora do prazo e entregar uma
declaração ao Fisco com informações equivocadas, o que pode gerar multa à
empresa.
Em função do impacto do erro, muitas organizações acabam
demitindo, mas este não é o melhor caminho. Antes, deve ser analisado o
histórico do profissional, o que ele já fez pela empresa e o quanto já gerou de
lucro, bem como deve ser medido seu nível de esforço e proatividade.
Demitir de cara é sempre o caminho mais fácil e, de certa
forma, também o mais covarde, porque o colaborador que tem dificuldades, sejam
elas técnicas ou comportamentais, não tem a oportunidade de melhorar, ou de
acertar. Logo, o melhor que o líder tem a fazer é dar feedback ao colaborador
que errou e esperar que, da próxima vez, ele não cometa o mesmo equívoco.
QUANDO O ERRO
PASSA A SER DO LÍDER
Porém, se o funcionário repetir erros já cometidos e nada
for feito a respeito, as chances são grandes de que o erro passe a ser do
líder. Quando o colaborador ou equipe desenvolve um trabalho medíocre, o líder
é prejudicado, porque não consegue atingir as expectativas da diretoria.
Entretanto, às vezes, a culpa é do próprio gestor e é ele quem precisa ser
avaliado.
Quando os erros do colaborador se repetem, passa a ser um
erro do líder, que é muito tolerante, paternalista e complacente com quem erra
seguidas vezes e não demonstra esforço para mudar. Oportunidade não é algo que
o líder dê. Oportunidade é algo a ser conquistado pelo liderado. Neste caso, o
líder não está fazendo aquilo que deveria fazer: avaliar, orientar e garantir a performance
superior da empresa frente à concorrência.
Quando os erros de um colaborador são recorrentes, pode ser
que o líder não soube dar feedback, não soube se comunicar.
COMO LIDAR COM O
ERRO
É importante que o líder não seja condescendente com o
profissional que não corresponde às expectativas. Assim, tão logo o funcionário
erre, é preciso chamar a sua atenção. Afinal, ele não poderá se corrigir se não
souber que está errando. Além disso, existe uma tendência das pessoas de se
acomodarem em questões relacionadas à vida, inclusive o trabalho. Chamar a
atenção é uma forma de desviar as pessoas deste comportamento natural.
Se os erros forem rotineiros, infelizmente o líder terá de
chamar a atenção todos os dias. O motivo por meio daquilo que chama de Teoria
de Equidade. É preciso tratar todos da equipe da mesma forma, sempre.
Para que toda uma equipe se sinta motivada, cada um deve
sentir que carrega um piano e que não há ninguém sem piano. Além disso, ninguém
quer carregar um piano a mais por outro. Em outras palavras, o líder não deve
distribuir privilégios, bem como precisa distribuir responsabilidades de forma
igualitária. Porém, se ele aceita o mau desempenho de um membro da equipe e
cobra uma performance excelente de outro, não está cumprindo com seu papel de
líder.
Para evitar injustiças, o gestor deve esclarecer as regras
desde o início, tanto no que se refere às punições quanto às compensações pelo
bom desempenho. Elas devem ser iguais para todos. Com isso, quando o
desligamento for a única saída, não se trata de uma punição ou injustiça,
porque as regras haviam sido comunicadas. Isso também evita que o colaborador
alegue falta de informação.
Se a escolha de um funcionário for não mudar e ficar
repetindo os erros, o afastamento ou desligamento não é uma punição. Trata-se
de cumprir com um acordo que estava claro desde o início.
Alerto, ainda, para o problema de o líder ser considerado
mole ou bonzinho demais. O gestor mole provavelmente terá uma equipe mole ou
alguém mais competente do grupo irá tomar seu lugar.
QUANDO FALTAM
COMPETÊNCIAS
Existe a hipótese de o funcionário simplesmente não possuir
as habilidades técnicas ou comportamentais necessárias para exercer aquela
determinada função. Quando isso ocorre, o erro foi das duas partes: da empresa, no momento da contratação, e do
funcionário, que se dispôs a assumir as funções.
O grande problema dos erros é que eles acarretam a queda da
qualidade do trabalho, o que, por sua vez, se reflete na imagem da empresa e
pode implicar prejuízos de receita, bem como acarretar reclamações por parte
dos clientes.
COMO ESTIMULAR O
APRENDIZADO?
Uma dúvida muito comum entre gestores é: como
posso estimular o aprendizado daquele profissional que vem cometendo erros?
Sugiro aos líderes, no lugar de dar respostas de forma
mastigada aos colaboradores, perguntar a eles o que fariam diante de
determinado problema.
Essa postura força o profissional a raciocinar e encontrar,
sem ajuda dos demais, a solução mais adequada:
sem dúvida, é uma forma de estimular seu desenvolvimento. O líder deve
ser inspirador e ajudar as pessoas a atingirem seus objetivos maiores de vida,
seus sonhos.
Por fim, complemento que o aprendizado se dá por sucção. Em
outras palavras, cabe ao profissional querer aprender.
“Quando alguém não quer aprender, não adianta ficar tentando ensinar”.
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Era Uma Vez...
“Era uma vez...
Em um reino distante, porque essas coisas nunca acontecem em
um lugar próximo:
O Rei mandara chamar os melhores pintores de seu domínio
para pintar seu retrato, como era de praxe na monarquia; acontece que o monarca
tinha um nariz grotesco, feio e desproporcional; para seu azar, ainda faltavam
umas boas décadas até a cirurgia plástica ser inventada. Mas o Rei sabia que
seu nariz era horrível, e, se já existisse a psicologia, diria-se que ele tinha
um baita complexo.
Os pintores sabiam disso, e não queriam desagradar o Rei.
Então, o primeiro pintou um quadro no qual retratou o governante com um nariz
de deus grego, perfeito, lindo. O Rei foi taxativo:
- O que é isso, o
senhor está tirando sarro de seu Rei, pintando uma caricatura de alguém que não
existe? Quer que a história tenha uma falsa imagem minha?
E mandou executá-lo...
Outro pintor, vendo a reação do monarca, resolveu pintar um
quadro fiel de seu governante.
Certo, gastou muita tinta para retratar a monstruosidade que
o nobre tinha no meio do rosto, mas ficou tal e qual. Novamente, veio a crítica
do Rei:
- Como é que você quer
que eu pendure isso junto aos outros quadros de meus antepassados? Quer que as
pessoas apontem para mim e riam? Onde já se viu?
E, também, mandou executá-lo...
Vendo que não havia saída, quase todos os outros pintores
desistiram de tentar pintar o retrato do monarca. Menos um, que pensou, pensou,
e encontrou uma saída.
E, surpreendentemente, o Rei gostou desse quadro, e convidou
toda a corte – e o artista – para uma festa para exibi-lo pela primeira vez.
Quando o pano que cobria a obra foi retirado, todos ficaram
impressionados. O artista retratara bem a floresta próxima ao castelo, o cão de
caça favorito do Rei parecia vivo e, dominando a paisagem, o monarca, segurando
seu bacamarte pronto para disparar bem na frente de seu nariz. O monarca não parava
de elogiar a composição, como o artista captara seu esporte favorito. Para quem
perguntava, o pintor explicava:
- Eu não poderia
mostrar o nariz, e também não podia pintar algo falso na tela; só me restava,
então, escondê-lo.”
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Ainda existe Empresa Ltda.?
A indagação destacada no título deste artigo parece sem
sentido, ante a obviedade de sua resposta, que é “sim”. Mas explicarei o porquê
da importância do tema.
Vem crescendo a cada dia a demanda de consultas e dúvidas de
empresários de todos os segmentos temendo o que parece ser a nova barreira
contra a classe no país: a
desconsideração da personalidade jurídica que, aplicada a empresas optantes
pela responsabilidade limitada, termina por tornar sem efeito justamente essa
característica da empresa.
Para aqueles que eventualmente ainda não estão a par desse
assunto, segue uma explicação resumida sobre o tema: é um mecanismo do direito que consiste na
descaracterização da personalidade jurídica da empresa, quando houver
comprovado abuso desta. Este abuso pode ser caracterizado pelo desvio de
finalidade ou pela confusão patrimonial, que fará com que o juiz estenda os
efeitos de certas obrigações aos bens particulares dos sócios da empresa.
O desvio de finalidade se caracteriza pelo uso da
personalidade jurídica de maneira que venha a causar prejuízos a terceiros e
que tenha a intenção de tornar inviável eventual reparação deste prejuízo. A confusão
patrimonial é mais simples de ser explicada e o farei com um exemplo: quando o advogado explica que não se pode
fazer compras para a empresa em nome do empresário e vice-versa, é justamente
para que haja essa separação entre o patrimônio da pessoa jurídica e o de seu
sócio. Indica transparência.
Ora, se para que o juiz determine a desconsideração da
personalidade jurídica necessariamente deverá restar comprovada a ocorrência de
ao menos uma das hipóteses mencionadas; somente deverá temer o empresário que
realmente não estiver na linha. Qual o temor daquele que nada fez de errado?
O temor daquele, reside no fato de que o mecanismo vem sendo
usado de maneira desenfreada, pois, em que pese haver previsão legal (Art. 50
do Cód. Civil e Art. 28 do CDC), não há qualquer regulamentação a seu respeito,
dificultando a vida de empresários, advogados e juízes, e ofedendo, muitas
vezes, o sagrado direito de ampla defesa e contraditório.
Toda essa incerteza aflige a classe empresarial em geral,
que começa a se sentir refém de eventual impasse financeiro, de ações judiciais
de ex-empregados, de consumidores insatisfeitos, enfim, de todo e qualquer
aspecto que possa gerar um litígio e que este venha a afetar seus bens
particulares.
Muito se tem faldo a respeito de uma regulamentação legal
específica para a aplicação deste mecanismo, tendo em vista que as hipóteses
legais até dispõem quando será aplicável, mas não definem quando as situações
(abuso de personalidade jurídica e confusão patrimonial) ocorrem e justificam a
decisão. Por isso, cabe, hoje em dia, aos juízes que o façam com base
doutrinária e jurisprudencial.
Até que haja uma regulamentação mais específica para a
desconsideração da personalidade jurídica, os empresários não podem padecer
desta expectativa, devendo empreender esforços em um adequado planejamento
societário e tributário, que deixe clara a saúde de sua empresa e a distinção
entre o patrimônio desta e o seu patrimônio pessoal. Esta transparência – que pode
ser obtida pela assessoria de advogado especializado – garantirá, mediante o
devido processo legal, que o judiciário tenha conhecimento de que empresa terá
condições, em caso de eventual condenação em ação judicial, de satisfazer a
obrigação.
Então, até que se torne igualmente clara a ausência de abuso de
personalidade e confusão patrimonial, não restará prejuízo a nenhum dos
envolvidos neste tipo de situação:
empresário, autor e nosso judiciário.
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