Logo após assumir um cargo administrativo em uma empresa,
quando da implementação de alguns procedimentos usuais na rotina
administrativa, começa-se os comentários:
“o cara é um engenheiro, um administrador. Está acostumado a lidar com
motoristas, não com coordenadores, gerentes educacionais e professores
universitários”.
O comentário se refere ao fato do gestor ter trabalhado com
o gerenciamento de motoristas, trocadores e supervisores de tráfego durante um
certo período.
O tempo é, de fato, eficaz para a compreensão e
aprimoramento de nossas ações. Hoje eu percebo que, ao implementar alguma
mudança, propor quebra de alguns paradigmas ou a construção de algo novo no
âmbito da Administração, em qualquer área das mais diversas organizações, é
possível e, até comum, que alguém menos avisado possa dizer, diretamente ou por
linhas tortas, um jargão como o citado logo no início.
Quando digo menos avisado, refiro-me ao desconhecimento, por
parte de alguns, da importância do trabalho de um bom motorista de ônibus e ao
procedimento intrínseco no comentário, em relação à sua função. Refiro-me,
também, à dificuldade que as pessoas têm de conceberem a ideia de não serem
dirigidas o tempo todo, de se comprometerem com o resultado global de uma
organização a partir da sua atuação como gestor, de fato, do negócio que
coordena.
Assim, não poderia perder a deixa e fazer o link entre o
gestor educacional, quer seja um coordenador de curso, de projetos ou extensão,
bem como os gestores dos diversos setores de uma instituição educacional, com o
trabalho de um bom motorista. Esse profissional faz muito mais que conduzir um ônibus
com segurança. Quando entramos no veículo como passageiros não imaginamos a
gama de informações, treinamentos e procedimentos que norteiam o trabalho
daquele profissional.
Ao iniciar a sua viagem, o motorista deve ser cortês; deve
cuidar para que todos os passageiros estejam munidos de seu bilhete de
passagem; deve se responsabilizar pela segurança dos usuários, dirigindo com
cuidado, obedecendo às leis de trânsito vigentes; deve exercer a direção
defensiva, preocupando-se com os demais motoristas, veículos e vias de
circulação.
Além disso, deve ser diligente em relação ao consumo de
óleo, de pneus e componentes mecânicos, hidráulicos, elétricos, entre outros;
deve observar o efetivo pagamento dos valores correspondentes pelos
passageiros; e também deve observar o horário de saída e os tempos de parada em
cada ponto, os pontos de embarque e desembarque de passageiros, cuidando para
que não fique nenhum passageiro para trás, quer seja no ônibus, quer seja na
estrada.
Conforme previsto na Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), esse profissional deve exercer suas funções com urbanidade, tanto em
relação aos passageiros como aos seus colegas de trablaho, seus superiores e
comandados. Os bons motoristas são de fato gestores de negócio, devendo cuidar
para que o resultado de suas atuações profissionais seja o melhor possível e
que proporcionem satisfação para o cliente e para a organização.
Neste caso, não
deveria ser o gestor, atuante nos mais diversos segmentos – acadêmicos ou
comerciais, públicos ou privados – um gerente do seu negócio?
Fazendo a comparação com o trabalho de um bom motorista,
fico pensando que o gestor educacional, além de ser cortês, deve cuidar para
que os seus professores estejam munidos de seus planos de aulas; que seus
alunos estejam devidamente matriculados; deve ser proativo no cumprimento do
que está estabelecido em seu plano de curso.
Além disso, deve ser diligente em relação aos custos, do
pincel e apagador aos materiais caros utilizados nos laboratórios; deve
verificar o pagamento das mensalidades de seus alunos para poder manter o
pagamento de seus professores em dia; deve observar o cumprimento de horários
dos tempos de aula, dos intervalos.
E ainda, deve cuidar para que os alunos se façam presentes
em sala e não nos corredores, bem como atentar-se para que o programa
pedagógico seja cumprido. Deve atuar na sua área, como se estivesse atuando em
seu próprio negócio, buscando a satisfação de seus clientes, internos e
externos, bem como a satisfação da organização onde trabalha, oferecendo-lhe o
melhor resultado operacional e financeiro.
Assim, imagino a atuação dos gestores de todas as áreas, de
todos os setores, visando sempre à concretização do que preceituam as relações
de trabalho, fazendo com que o retorno dos benefícios, a que faz jus em função
do cargo que ocupa, seja o melhor resultado como consequência de suas ações.
Um bom gestor educacional deve ser, sim, um bom motorista,
conduzindo com prudência, segurança, conhecimento, cortesia e resultados
positivos todos os seus alunos até o destino chamado mercado de trabalho. Dessa
forma, cuidando para que a empresa permaneça saudável e possa lotar, cada vez
mais, ônibus e salas de aula.