“Era uma vez...
Em um reino distante, porque essas coisas nunca acontecem em
um lugar próximo:
O Rei mandara chamar os melhores pintores de seu domínio
para pintar seu retrato, como era de praxe na monarquia; acontece que o monarca
tinha um nariz grotesco, feio e desproporcional; para seu azar, ainda faltavam
umas boas décadas até a cirurgia plástica ser inventada. Mas o Rei sabia que
seu nariz era horrível, e, se já existisse a psicologia, diria-se que ele tinha
um baita complexo.
Os pintores sabiam disso, e não queriam desagradar o Rei.
Então, o primeiro pintou um quadro no qual retratou o governante com um nariz
de deus grego, perfeito, lindo. O Rei foi taxativo:
- O que é isso, o
senhor está tirando sarro de seu Rei, pintando uma caricatura de alguém que não
existe? Quer que a história tenha uma falsa imagem minha?
E mandou executá-lo...
Outro pintor, vendo a reação do monarca, resolveu pintar um
quadro fiel de seu governante.
Certo, gastou muita tinta para retratar a monstruosidade que
o nobre tinha no meio do rosto, mas ficou tal e qual. Novamente, veio a crítica
do Rei:
- Como é que você quer
que eu pendure isso junto aos outros quadros de meus antepassados? Quer que as
pessoas apontem para mim e riam? Onde já se viu?
E, também, mandou executá-lo...
Vendo que não havia saída, quase todos os outros pintores
desistiram de tentar pintar o retrato do monarca. Menos um, que pensou, pensou,
e encontrou uma saída.
E, surpreendentemente, o Rei gostou desse quadro, e convidou
toda a corte – e o artista – para uma festa para exibi-lo pela primeira vez.
Quando o pano que cobria a obra foi retirado, todos ficaram
impressionados. O artista retratara bem a floresta próxima ao castelo, o cão de
caça favorito do Rei parecia vivo e, dominando a paisagem, o monarca, segurando
seu bacamarte pronto para disparar bem na frente de seu nariz. O monarca não parava
de elogiar a composição, como o artista captara seu esporte favorito. Para quem
perguntava, o pintor explicava:
- Eu não poderia
mostrar o nariz, e também não podia pintar algo falso na tela; só me restava,
então, escondê-lo.”