segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O Dia em Que O Jegue Ensinou o Professor





Esta história que contarei, não faz tanto tempo, e é verdadeira.

Era uma loja muito limpinha, muito arrumadinha, lá pros lados de Jequié, no interior da Bahia. Era o primeiro supermercado da cidade, reluzente de novo, porém sem alma viva para comprar.

Acontece que o tabaréu e a tabaroa – nome que se dá ao caboclo, caipira regional – se assustava com tamanho luxo.

Acostumado a comprar nas feiras das praças, espantar as moscas que pousavam na carne pendurada nos varais das barracas, o tabaréu não tinha coragem de enfrentar tanta limpeza e aquela modernidade toda.

Onde já se viu sujar o piso de cerâmica com a botina? Imaginava que seria expulso do supermercado. Botina acostumada ao chão de terra batida e à poeira das estradas e das praças da cidade onde seu dono comprava galinha viva, cabrito, porco retalhado à machadinha, carne-de-sol, jerimum, verduras, legumes, frutas, feijão-de-corda verde – medido aos litros em lata de óleo vazia – e tantos outros mantimentos.

Um belo dia um tabaréu desavisado apeou do jegue, entrou na loja, amarrou o animal no primeiro checkout que viu e se sentiu um rei, sozinho em uma loja moderna.

Foi enchendo de mercadorias o saco de pano que levava às costas, passou pelo caixa e pagou.

Desamarrou o jegue, que a essa altura tinha deixado no chão um monte de lembranças tanto sólidas quanto líquidas, mas igualmente malcheirosas, para espanto dos funcionários atônitos. Para amenizar a fedentina e absorver a umidade, o gerente mandou espalhar serragem pelo chão, depois de varrida a loja. Em seguida a loja lotou.

A partir desse dia virou lei espalhar serragem na entrada da loja antes de abrir as portas. É verdade que o supermercado perdeu aquele ar limpinho, arrumadinho, porém se tornou um sucesso de vendas.

Nesse dia pensei:  quando chegar em casa, vou rasgar o livro daquele teórico americano idolatrado por milhares de professores e alunos do mestrado.

Seguindo os passos daquele autor de marketing, tudo na loja estava certo, ela era perfeita, exceto no sertão da Bahia, exceto para o tabaréu.

Não rasguei o livro, para infelicidade do autor, pude contrariá-lo dezenas de vezes ao longo desses anos, e confesso que hoje estou convencido de que:  “Não é o consumidor que escolhe a loja, é a loja que escolhe o consumidor. Mesmo sem nenhuma sutileza, foi isso que disse o jegue...”