O Alfinete e a Agulha
“Conta-nos uma antiga parábola que, certo dia, um alfinete e uma agulha encontraram-se numa cestas de costuras.
Estando os dois desocupados, começaram a discutir, porque cada um se considerava melhor e mais importante do que o outro:
- Afinal, qual é mesmo a sua utilidade? Disse o alfinete para a agulha.
- E como pensa você vencer na vida se não tem cabeça? A sua crítica não tem a menor procedência, respondeu a agulha rispidamente.
- Responda-me agora: De que te serve a cabeça se não tem olho? Não é mais importante poder ver? Ora, e de que lhe vale seu olho se há sempre um fio impedindo a sua visão? Retrucou o alfinete.
- Pois fique sabendo que mesmo tendo um fio atravessando o meu olho, eu ainda posso fazer muito mais do que você.
Enquanto se ocupavam nessa discussão, uma senhora pegou a cesta de costura, desejando coser um pequeno rasgo no tapete.
Enfiou a agulha com linha bem resistente e se pôs a costurar o mais rápido que pôde.
De repente a linha emaranhou-se, formando uma laçada que dificultou o acabamento da costura.
Apressada, a mulher deu um puxão violento que rompeu o olho da agulha.
Tendo que ultimar aquele trabalho, ela amarrou a linha na cabeça do alfinete e conseguiu dar os pontos finais; mas na hora de arrematar, a cabeça do alfinete se desprendeu. Impaciente com tudo, jogou a agulha e o alfinete na cesta e saiu resmungando.
Ambos estavam enganados: o alfinete e a agulha, nenhum dos dois era insubstituível.
Nenhum dos dois era perfeito. Nenhum dos dois era tão versátil que pudesse julgar-se com o direito de se considerar melhor do que o outro.
Porque também o corpo não é um membro, mas muitos.
Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixará de ser do corpo. E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti...”