“Morre lentamente quem vira escravo do hábito,
repetindo
todos os dias o mesmo trajeto
e as mesmas compras no supermercado.
Quem não
troca de marca,
não arrisca vestir uma cor nova,
não dá papo para quem não
conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
quem não se permite,
uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não acha graça de si mesmo.
Morre
lentamente quem destrói seu amor próprio.
Morre lentamente quem não trabalha e
quem não estuda.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte
ou da chuva incessante,
desistindo de um projeto antes de inicia-lo,
não
perguntando sobre um assunto que desconhece
e não respondendo quando lhe
indagam o que sabe.
Morre muita gente lentamente,
e esta é a morte mais ingrata
e traiçoeira...
Já que não podemos evitar um final repentino,
que ao menos
evitemos a morte em suaves prestações,
lembrando sempre que estar vivo exige um
esforço bem maior
do que simplesmente respirar...”
Pablo
Neruda