sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Investimentos, Inovação e a Crise



Logo cedo o diretor chega na empresa e marca uma reunião de urgência com todos os gerentes. Está preocupado com as últimas notícias que ouvira no rádio, a caminho do trabalho, sobre a crise internacional.

O discurso de abertura é sincero: “Precisamos nos mobilizar para vencer a crise!!! Precisamos de soluções inovadoras para superar as expectativas dos nossos clientes!!!”. O diretor está bastante alinhado com as últimas tendências em administração de empresas e, após ler alguns livros e revistas, tem a total convicção de que realmente a inovação é a melhor forma de superar a crise. As justificativas são claras: “Se quisermos nos destacar não podemos seguir a manada, temos que ir para outra direção”, “Só haverá espaço para quem se adaptar rapidamente”.

Todos os gerentes prontamente saem pela empresa divulgando: “Precisamos inovar!”, “Sejam Inovadores!”, “Vocês precisam ter novas idéias!”. Investimentos são aprovados, e projetos são iniciados.

Depois de três meses, de dezenas de sessões de brainstorming e de milhares de reais, os resultados alcançados são pífios. Das idéias geradas, poucas foram implementadas e, destas, quase nenhuma gerou resultado considerável. Uma avaliação das idéias mostra que quase a totalidade era baseada em soluções já conhecidas no dia-a-dia da empresa e não traziam vantagens competitivas ou, até mesmo, nem podiam ser consideradas idéias novas.

Frente aos resultados, o diretor e a gerência decidem que o melhor a fazer é esperar a crise passar e anunciam cortes de gastos e investimentos. Poucos meses depois, um concorrente se destaca e a empresa entra em crise, funcionários são demitidos e um clima de terror se instala na empresa. O diretor lamenta até hoje os investimentos desperdiçados....

Histórias como a exposta acima são comuns, a diretoria bem informada e alinhada com as tendências estratégicas decide agir frente à crise e buscar uma diferenciação em relação aos concorrentes. A ordem de inovar é lançada e investimentos são aprovados. As pessoas se esforçam para ter idéias brilhantes e seções de brainstorming são realizadas freqüentemente. Pouco tempo depois, a sensação é de que o esforço e os investimentos foram em vão. A partir daquele momento, a empresa passa a assumir uma posição de cautela frente a qualquer indício de crise com medo de que a mesma história se repita. 

Será que o diretor estava correto em investir durante a crise?

Por que investir durante uma crise?
Uma das características naturais dos seres humanos é “fugir” com o coletivo em situações de perigo eminente, como em um incêndio. Esta característica também pode ser observada no mercado de ações quando as pessoas começam a vender suas posições somente porque as outras estão vendendo, criando a chamada “bola de neve”. Em momentos de crise, a situação se repete quando se fala em investimentos em inovação. É comum empresas desistirem de um projeto que lhe traria um ganho substancial com o argumento de que houve cortes de gastos seguindo a tendência do mercado, quando na realidade, este cenário de pessimismo coletivo pode representar um trampolim para aqueles que pensarem diferente.

A teoria da seleção natural de Charles Darwin diz que uma espécie se multiplica exponencialmente em um ambiente até que a escassez de recursos leva a uma competição acirrada, onde só os mais fortes sobrevivem. Em momentos de crise o mercado se comporta como o ambiente citado por Darwin. Ocorre uma escassez de oportunidades, ou seja, um aumento de competitividade entre as “empresas de mesma espécie”. Esta competitividade leva a uma alta taxa de mortalidade daquelas menos adaptadas ao novo cenário. Assim como diz o trabalho de Charles Darwin, em um mercado em crise, apenas os competidores mais fortes sobrevivem. Certamente, nestes momentos o mercado pode ser cruel com aqueles que apenas esperarem o momento ruim passar.

Quem estudar o comportamento do mercado ao longo das décadas poderá concluir que tende a seguir um ciclo previsível de períodos de alto crescimento e períodos de crise. Esta tendência mostra que após uma crise ocorre um período de mercado aquecido, seguido de um período de crise e novamente um período de mercado aquecido, etc. Como investimentos em inovação visam resultados a médio-longo prazo, quem investe durante uma crise provavelmente poderá usufruir deste investimento no próximo período de mercado aquecido, e vice-versa. Assim, os períodos de baixas vendas podem ser considerados momentos de preparação para o próximo momento de mercado aquecido, que em breve virá.

Outra característica de um momento de crise que o torna atraente para investimentos em inovação se refere à resistência dos funcionários a mudanças em seu dia-a-dia. Nestas ocasiões as pessoas ficam mais suscetíveis a aceitar mudanças propostas no seu cotidiano, desta forma, estes momentos seriam uma oportunidade excelente para a implementação de novas idéias e soluções dentro de uma empresa. Seria o inverso da mentalidade de que “não se mexe em time que está ganhando”. A baixa resistência a mudanças internas pode aumentar a chance de um novo processo ou produto ter sucesso em uma empresa.


Erros comuns de quem investe em inovação

Como foi visto na história inicial deste artigo, é comum casos de empresas que não alcançam os resultados planejados com seus investimentos em inovação. Na maioria destes casos, a decisão de investir é uma decisão correta, o erro cometido é na forma como este investimento é realizado.

O primeiro desafio para uma empresa que busca se desenvolver é entender quais são os principais problemas que devem ser solucionados. Apesar de parecer uma informação elementar, o entendimento concreto do problema representa 50% da sua solução. Buscar soluções para o problema errado é uma das principais razões para investimentos em inovação não trazerem o retorno esperado.

Outro equívoco comum é se esquecer que o processo de inovação envolve incertezas. É comum empresas colocarem “todos os ovos na mesma cesta” e encararem um projeto de inovação como algo que OBRIGATORIAMENTE VAI SALVAR A EMPRESA, gerando uma forte demanda por resultados rápidos. Nesta situação, as chances de uma solução de alto retorno ser gerada diminuem consideravelmente. Os funcionários sob pressão passam a não acreditar em idéias que a princípio parecem infactíveis.. E são exatamente estas idéias que costumam trazer os maiores retornos quando são estudadas e se tornam factíveis.

Outra dificuldade encontrada se deve a falta de metodologia ou boas práticas de inovação. A primeira “ferramenta” que vem a cabeça da maioria das pessoas quando se pensa em gerar novas idéias é o chamado “brainstorming”, onde um grupo de pessoas se senta em uma sala para ter idéias aleatoriamente. Porém, estas seções são ineficientes. Primeiro porque o sucesso passa a depender da possível inspiração de um participante que tenha uma idéia brilhante. Outra dificuldade se deve a fatores motivacionais e da chamada inércia psicológica. Os funcionários, em geral, já têm muitos outros problemas do seu dia-a-dia para pensar e podem facilmente não se envolver por completo, e quando o fazem, costumam pensar em soluções conhecidas, já utilizadas pela indústria, ou seja, não geram idéias inovadoras.


Uma forma de diminuir os riscos
Um dos maiores receios para quem investe é a possibilidade de não obter o retorno esperado. Este receio fica ainda mais aflorado em momentos de crise, onde um investimento mal feito pode ser desastroso para a sobrevivência da companhia. Empresas eficientes em processos de inovação costumam utilizar as chamadas técnicas de inovação sistemática para diminuir este risco.

As técnicas de “inovação sistemática” se iniciam com o profundo entendimento do problema ou desafio a ser atacado. Em seguida ocorre a abstração deste problema, onde o mesmo é correlacionado com problemas mais genéricos. Uma simples pesquisa em base de dados pode gerar uma lista considerável de possíveis soluções para estes problemas genéricos, sem depender da criatividade e da inspiração da equipe envolvida. Então o desafio passa a ser identificar maneiras de aplicar as soluções do problema genérico ao problema específico inicial, uma atividade que exige mais do conhecimento técnico do que de inspiração e criatividade.A experiência mostra que estas técnicas reduzem consideravelmente o tempo de ideação, de filtragem e de validação de novos conceitos. As idéias geradas têm maior probabilidade de sucesso, reduzindo o risco envolvido e a quantia de investimento necessária. Além disso, estas técnicas privilegiam conceitos disruptivos que costumam resolver contradições importantes e trazer um alto retorno sobre o investimento.


Conclusão
A decisão de investir ou não investir é sempre delicada. Um passo em falso pode representar uma quantidade enorme de dinheiro sendo desperdiçado ou dar a oportunidade que o concorrente precisa para lançar um produto inovador no mercado e dominá-lo. Em um momento de crise as decisões são ainda mais complexas, todos parecem estar em cima de um fio de navalha. Neste momento, as empresas precisam colocar os pés no chão, buscar maneiras de diminuir os riscos dos investimentos e pensar na inovação como uma oportunidade de se adaptar ao novo cenário e desbancar os concorrentes. Afinal, o mercado mundial já passou por muitas crises ao longo da história e sempre se recuperou, aqueles que aproveitam a oportunidade podem se destacar quando a tempestade passar.